08 agosto, 2004

Entardecer


Amo o entardecer. Comove-me a hora em que o sol fica a pique e a luz, amarela e intensa, se derrama sobre os telhados. Amo o exacto momento em que o rio se torna um imenso devaneio azul e os barcos deslizam leves como a palha que corre à superfície da água. Há no entardecer de cada dia uma infinita poesia. (...) Amo o movimento lento da lua quando emerge do rio e se eleva ao alto do céu, deixando um rasto cintilante na superfície da água e desenhando grandes rectângulos de luz ao comprido do chão de madeira. Amo a substância dos dias e a consistência das horas. Os gestos banais, as coisas simples, os risos, as lágrimas e os silêncios partilhados. Amo o tempo inteiro e a eternidade que germina em mim e à minha volta. Amo Deus em todas as coisas e em cada pessoa. Amo as casas que habito e os lugares que conheço. Amo a intimidade e a verdade. E amo o entardecer por ser a hora em que tudo se completa e o momento em que consigo juntar o que há de disperso em mim. Podia viver só ao entardecer.

Por Laurinda Alves, Xis, 07/08/2004

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